quinta-feira, 8 de setembro de 2022

De aventuras, alegrias e saudades: Feliz aniversário, tia Marlene!


Bonjour, 

Hoje seria o aniversário de seus 87 anos. Nossa tia Marlene Moreira Damaceno nos deixou no último mês de maio, depois de 15 dias internada em consequência de um câncer. Era um dos quatro filhos da minha avó materna, Bernadete Pessoa, que teve um filho e três filhas: Minha mãe, meus tios Milton, Marlene e a caçula, Nadir, todos nascidos em   Salvador.  

Nadir morreu acometida de tuberculose na década de 1950, quando Salvador passava por crises sanitárias. A família inteira: minha avó Bernadete, minha tia-avó Theresa - que era parteira diplomada pela Faculdade de Medicina, e o cabeça da família - seus dois filhos, Geraldo e Gildásio, além de minha tia Marlene seguiram para o Rio de Janeiro em busca de tratamento para a minha prima Nadir. E ficaram por lá. 

Apenas na Bahia permaneceram minha mãe, Nilza, que tornou-se professora primária do Estado - e residia em Alagoinhas; e o irmão, Milton, funcionário do IPASE, em Salvador, ambos já com relacionamentos encaminhados. Nadir não resistiu à doença, apesar dos esforços. Minha tia Marlene trabalhou no setor gráfico no Rio de Janeiro, onde conheceu meu tio Ananias. 

Nossa avó

Eu conheci oficialmente nossa tia Marlene por ocasião da morte de minha avó, em 1978. Eu tinha 14 anos e e na ocasião acompanhei minha mãe na viagem de ônibus até o Rio de Janeiro. Foi um episódio traumático pra mim, que fiquei com sequelas emocionais de ter encontrado nossa avó, pela primeira vez, ainda na pedra do necrotério do Hospital, à espera dos procedimentos funerários. 

Eu não tinha toda essa coragem. Nem sabia que situação iria encontrar. Mas, o que parece é que minha mãe recebera algum provável telegrama ou outro comunicado de alguma outra forma, uma vez que nessa época de baixo acesso às comunicações, não tínhamos telefone em casa. 

O fato é que encontrei nossa avó pela primeira e última vez com um fumacinho de algodão nas narinas. E aquela foi a imagem que me perturbou até hoje. A experiência me rendeu nos dias seguintes, noites em claro, dado que a morte, diretamente de algum familiar, seria a primeira vez que encararia. Não recomendo o método! 

Lembro-me que era de estatura pequena, estava com pouco peso, usava um robe branco. E eu me senti muito incomodada com a imagem final desse ser, que não cheguei a conhecer de outro modo. Ficamos por ali, minha mãe provavelmente tão surpreendida quanto eu. 

Aguardamos em algum lugar os procedimentos, a chegada do caixão, nem sei, não me recordo desse detalhe. Apenas de que seguimos para o cemitério do Caju, onde minha avó se encontra enterrada no jazigo da família. 

Visitas

Desde esse triste episódio, nossa mãe e minha tia Marlene passaram a se ver mais. Especialmente porque ao contrário de minha mãe, Nilza, que possuía temperamento mais reservado, a minha tia Marlene era uma pessoa calma, de passos macios, mas ao mesmo tempo alegre,  risonha, de bom humor, gostava de uma "beer", de acarajé, e como uma boa baiana, com seu carioquês, vivia de bem com a vida. 

Nos últimos anos vinha com regularidade a Salvador. Eu me ocupei em grande parte das vindas dela à cidade, interrompida pela pandemia. Por vezes, ajudando na dinâmica dos voos, por vezes realizando com ela os trajetos de visitas às casas do irmão Milton, no subúrbio de Paripe, e de minha mãe, quando ainda em Alagoinhas. E, nas últimas viagens, em Aracaju, onde minha mãe residiu no último período da vida até falecer em 2014. 

Mas, até esse ponto mais recente, eram minha tia Marlene e meu tio Ananias, o esposo, eles próprios que organizavam as visitas. Minha tia, sempre de bom humor, uma alegria e encantamentos com todos os lugares por onde passava. Em algumas das visitas, trouxe a neta mais velha, nossa prima, Pryscilla, a quem criou como filha. 

Tinha plena satisfação em visitar a família inúmeras vezes e um amor e uma amizade imensos por minha mãe, sua irmã, e os sobrinhos. Um deles, nosso irmão mais velho, Gute, morou com ela desde os 10 anos, no Rio de Janeiro. Retornou apenas com 26 anos, em 1977. 

Última viagem

Na última viagem, em 2012, levei-a a Aracaju para visitar nossa mãe e os sobrinhos, que residiam por lá. Fiz com ela e meu tio Ananias inúmeros passeios à praia. Minha tia adorava uma beer e ríamos muito dessa disponibilidade que ela tinha para a vida. 

Como uma boa baiana, gostava de degustar acarajé, de ir à Igreja do Bonfim, de passear pelo Centro Histórico. Em uma dessas viagens, peguei de carro a Estrada do Coco e levei-a para almoçar na Praia do Forte. Ela gostou, mas senti que preferia ainda o ar soteropolitano, que ela amava de paixão. 

Sempre íamos visitar a prima Mida, no bairro da Soledade, com quem foi criada. Minha tia adorava o cardápio baiano que a prima preparava. Minha tia Marlene teve três filhas:  Eliane, Adriana e Isabel, com meu tio Ananias, o amor da sua vida. E três netas: Pryscilla, Nadir e Giovana, e o primeiro bisneto, José. Minha tia envelheceu com a mente aberta e ativa. E com a alma cheia de vontade de se divertir e de dar risadas. 

Em uma dessas últimas viagens a Aracaju, na volta passamos em visita ao Sítio do Conde, onde residia minha irmã caçula, Virgínia. No retorno, almoçamos na linha verde. E também a levei a visitas ao meu tio Milton, em Paripe, e a meu irmão, Zé, no Caminho das Árvores, que nos recebeu com um lanche. Comemos bolo e servi a meu tio Ananias o maior pedaço. Um ou dois anos depois ele viria a falecer. 

Nossa tia Marlene, que aniversaria hoje, nos deixou no último dia 22 de maio, aos 87 anos. É uma grata alegria, um amor imenso ser sua sobrinha. Meu tio Ananias faleceu de uma pneumonia, há cerca de quatro anos. Imagino que não aguentaria partir depois dela. Um feliz aniversário, tia! Onde quer que esteja! 

Um comentário:

  1. Quanta sensibilidade… Obrigada pela homenagem. Nutriu-me!

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