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quinta-feira, 15 de julho de 2010

De aniversário e perdas

Bonsoir,
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!

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