quinta-feira, 14 de abril de 2011

De solidão e final

Bonsoir,
Falei ontem com nossa mãe. Passou-me uma pessoa forte, com uma evidente energia vital. Adquiriu uma vitalidade interessante desde a crise em que foi parar no hospital. Parece que a consciência retornou com força. Entretanto, queixou-se mais uma vez de solidão e da ausência dos filhos. E pela primeira vez externou a preocupação  que lhe tem tomado desde a experiência do internamento: o dilema que muitos de nós passará, que é o questionar se está perto do final.
A abordagem dela foi de uma aceitação da morte como algo certo e como se tivesse sido treinada e, agora, preparada para essa passagem. Falou-me textualmente: "Estou aqui caminhando, preparando-me para o final". Foi bem difícil ouvir isso. Tentei mostrar-lhe que não é porque se é idoso que a vida se ceifa. Jovens, adultos, crianças também estão expostos à mesma condição, à mesma pulsão. Tentei fazê-la vê que enquanto há vida, a gente tem que buscar se reformar e encontrar a alegria nas coisas do dia-a-dia, mas nunca renunciar. Como saber o que Deus nos destina? Como saber se já é a hora? Para alguém como ela que tem 84 anos essa hora parece cada vez mais perto e mais dura ainda por ter acredito que esses filhos, essa família nunca iriam falhar...
Fui dormir tomada por essa questão, um tanto impotente diante desse nada em que a morte nos transforma. Falei-lhe de vida, de aulas de canto, de sessões de fisioterapia, de instantes que podem fazer a vida valer à pena. E filhos que a gente cria e vão ao mundo, nem sempre voltam ao ninho primordial. Essa talvez seja a maior lição de desapego que ela está tendo que enfrentar, talvez entre todas as lições de sua vida, a mais difícil. Aprendamos com isso!

A tout a l'heur!

domingo, 10 de abril de 2011

De fisioterapia e domingo chuvoso

Bonjour,
Falei hoje com minha mãe e ela perguntou novamente por você. Contou-me a novidade de que agora já está andando. Uma grande felicidade a notícia, depois do grande susto que ela nos deu. Andar, vai proporcionar maior autonomia, em especial à noite por proporcionar maior liberade de circular pela casa e de ir ao banheiro, caso necessite.
É uma alegria saber que não está dependente das assistentes. Está há coisa de três semanas, um mês com uma fisioterapeuta, que lhe auxiliou nesse trabalho de retornar a caminhar. Contou-me sobre trabalho com bola e os exercícios que também fazem bem à mente. Agora tem mais uma pessoa com quem compartilhar as experiências e as dificuldades desse processo de restabelecimento.
Achei-a um pouco triste hoje, sempre em busca de notícias suas e de alguns familiares de quem possui pouca ou quase nenhuma notícia, como é o seu caso.
Espero que um dia possa retornar a tempo de ter esse encontro com ela. Seria bom para as  duas.
Eu, um pouco mais voltada para minhas tarefas esses tempos, mas sempre de olho na moça do tempo. Deve estar chovendo por aí. A mesma mancha larga de chuva que a moça do tempo apresentava aí, também se estendia até aqui. Amanheceu bastante chuvoso o dia, como o sentimento de minha mãe por não ter notícias suas. Mas, como os dias carregados de chuva também passam, fica a esperança de que o sol brilhe para vocês e para ela, um dia.

A tout à l´heur.

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De amiga que se vai e das lembranças que ficam: meu adeus a Christel

                                             Christel em Carcassone.  Minha amiga Christel partiu! Recebi seu adeus por intermédio de outra ...