Bonjour,
Ontem lembrei-me de você. Fui a uma clínica fazer um teste ergométrico e depois um ecocardioagrama. Exames de rotina. Observei como a medicina está cada vez mais impessoal e burocrática. Pessoalmente tenho alergia a médicos, hospital, essas coisas. Ida, só preventivamente e em último caso!
Pra começar, não se é mais necessário saber em que contexto você se encontra e o que lhe traz ali. Se é um exame como esse (teste ergométrico), as perguntas têm malmente a ver com o diagnóstico relativo ao quadro: peso, altura, colesterol alto? Diabetes? Hipertensão? Ah! E antes do exame se vc está alimentada.
O procedimento prossegue com um profissional limitado a tomar sua pressão, colocar os dados numa máquina e lhe informar que a esteira vai entrar num nova frequência, que é pra vc ir se ambientando com o próximo esforço antes da exaustão. Dessa vez - a médica bem nova que mal me deu um bom dia e sequer um até logo - me perguntou a certa altura do exame em que nível de esforço eu supunha me encontrar. - Entre zero e 10", complementou. E àquela altura eu considerava estar num nível cinco. Daí em diante a esteira puxou.
Ao final, nem uma palavra sequer sobre o procedimento, apenas adiantou que o resultado do exame estaria pronto em 10 minutos. Não fosse a minha pergunta sobre o meu estado geral, nada teria sido dito.
O procedimento foi feito numa sala de uns oito metros quadrados, seis dos quais destinados à esteira, uma maca, um computador e uma cadeira. Atrás de um biombo contíguo já se encontrava um novo paciente, na mesma sala, nos dois metros restantes, preparando-se para entrar tão logo eu descesse da esteira. Enquanto ele se aprontava, tendo a gordura corporal retirada com um chumaço de éter, eu era obrigada a inalar aquela substância à qual a maioria das pessoas se sente indisposta na presença. Quem gosta de cheiro de hospital e de lembranças de injeção????
Pois bem, não foi difícil lembrar-me de você, de quão é dura essa profissão que você escolheu. À tarde, já deitada para um novo procedimento - um ecocardiograma - o médico que realizava o exame - já com outra postura de quem sabe que muito do glamour da área médica é ilusório - confessava-me: - Vc sabe, médico é peão mesmo"!. O comentário aludia ao fato de que - como não pôde deixar de ser - me referia a você (ah! sabe, eu tenho uma irmã médica, mas ela não mora aqui!) e de me reportar o quanto vc trabalha, além da Universidade nesses empregos públicos!
Até mais!
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
De burocracia, medicina e trabalho peão
Labels:
burocracia,
procedimento clínico,
teste ergométrico
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
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