domingo, 26 de dezembro de 2010

De Natal, Macaca Monga e peru de padaria

Rrrrrrrrr. Que meda!
Bonjour,

Espero que você tenha tido um Feliz Natal! É um período bem alegre, bem divertido, que eu amo. Coloquei todos os meus enfeites em casa – comprei também uma faixa para a porta de entrada aonde estava escrito “Feliz Natal”! Foi um Natal em paz!


Minha mãe foi pra Estância passar com a família do genro, marido de Sueli. Fiquei por aqui mesmo, saboreando o calor e a tranqüilidade da cidade. Fiz visitas a amigos, algumas virtuais e aproveitei as guloseimas agora da época, dentre elas, um delicioso pão de frutas.

Lembra como eram bons os nossos natais! Tinha Roberto Carlos com lançamentos quentinhos a cada ano, que terminavam embalando nossos sobe-e-desces nas rodas-gigantes do parque de diversões que todo fim de ano chegava à cidade. Eu morria de medo daquela roda gigante. Meu cérebro sempre atento me fazia quase odiar o passeio porque eu nunca relaxava. Acreditava no que via em filmes, em acidentes com rodas-gigantes e a gente dependurado lá em cima numa cadeira a meio fio de se esborrachar no chão. Era uma fantasia péssima, por sinal, que tirava a minha tranqüilidade.

Mas, fora esse tormento, havia os tranqüilos cavalinhos do carrosel que não nos ameaçava; o trenzinho, os barquinhos e o brinquedo que eu mais gostava: carros elétricos – os mais caros do parque – que deslizavam e a gente tinha o controle e podia ir aonde queria. O momento em que a gente batia um no outro era o que eu mais me deliciava. Era como se dissesse: que encontro bom: eu aqui no meu dirigível, você aí! Uma delícia!

E ainda tinha muita diversão. Gostava das maçãs e uvas do amor (que maravilha!); da supermacaca Monga enjaulada, que fugia no final da cena e ameaçava nos pegar. Ah! O trem fantasma, nossa, eu ia de olhos fechados o tempo todo, acreditando que aquelas pessoas fantasiadas eram mesmo de verdade. E gritava a viagem inteira. Acho que fui em duas experiências! Que garotinha medrosa eu fui! Mas, o mais bacana também eram o tiro ao alvo, sempre à caça de bichinhos de pelúcia que eu nunca ganhei! E também as argolas pra laçar caixas de fósforos que davam direito a prêmio. Esse era um dos meus passatempos favoritos. E eu adorava me lançar algum desafio de levar pra casa prêmios – lembra de um ano em que a febre era um brinquedo chamado vai-vém? Tudo isso era a marca do Natal!

E o tempo em que meu pai cuidava de comprar o peru e mandar assar na padaria? Nossa, que peru mais gostoso! Tinha a árvore para armar, os brinquedos (Estrela) pra escolher e a ceia regada a champagne e queijo cuia – nossa, quanto sal nessa iguaria! Éramos felizes, não é mesmo? E quando os meninos nasceram, como era legal levá-los, pequeninhos, a essa festa que a gente já conhecia. Sati não gostava muito não! Com dois, três anos já tinha personalidade. Uma vez inventei de colocá-la – ela meio a contragosto – num trenzinho, sozinha. Quando me distraí um pouquinho e virei as costas, você não acredita: ela tinha descido do brinquedo não sei como. Fez seu protesto particular. E dali em diante passei a respeitar o arbítrio das crianças. E você, depois me conta aí como é que foi esse Natal?




A tout a l'heur!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

De batuques, Verão antecipado e papai noel voador



Bonjour,
Nem é verão em Salvador. Mas, o som ritmado tirado de tambores africanos no bairro ao fundo de casa, antecipa a grande festa. O calor também já é grande. Refugio-me no quarto, guarnecido por uma porta de vidro que abafa a reverberação e controla o meu estágio de pré-fuga. Como você sabe, estou envolvida no processo de finalização de escrita de tese e qualquer desambiência retira de mim a frágil concentração.
Estou em casa há dias, reclusa em torno de noções que seguem na direção de serem sustentadas e defendidas. Saio aqui e ali para uma coisa e outra, resistindo à atração dos oh,oh, ohs e dos blim-bléns que me fazem relembrar uma das festas de que mais gosto.
Minha casa está enfeitada desde o início do ano. Alvoreceu 2010 e desde então um papai noel montado num pára-quedas e um outro bibelô de porta jazem nas minhas salas à espera de que eu lhes informe de que a minha meta de concluir o trabalho em dezembro foi cumprida. Acredito que ainda não será desta vez. Mas, ficou próximo!
Esses dias liguei pra nossa mãe e lá estava ela, animada, com uma apresentação de coral que faria na segunda-feira. A ligação foi num sábado, mas ela também se reportou a você. Sempre a pergunta: "Por onde ela anda?", "Será que aparece?". "Ela sabe que tem um quarto e uma cama esperando pela visita dela".
Gostaría que essa alegria um dia se cumprisse, que num desses natais não tão fartos assim - ela já tem 84 - fosse o natal da vida dela, quando aquele filho pródigo que partira, agora retorna. É bom sonho, afinal, é Natal. Espero que por aí a cidade seja colorida e não lhe falte alegria e contentamento nesse período tão bonito!

A tout à l'heure.

sábado, 11 de dezembro de 2010

De andorinha, vick vaporub e centro da cidade











Bonsoir,
Veja esta foto aí. Que presente, não?! Uma andorinha pousada recentemente no teto do meu carro foi pra mim uma grande surpresa. Não leve em conta o fato de que o carro está precisando de uma lavadinha, mas sobretudo que a imagem é metaforicamente perfeita para meu momento atual. Todo mundo sabe que uma andorinha só não faz verão. E eu, mais do que nunca, tô me valendo dessa máxima.
A andorinha não se importou muito com minha presença e ficou ali de três a cinco minutos me ensinando muita coisa. E eu tinha acabado de te falar do quanto seria importante trocar figurinhas com você, se você pudesse nesse momento estar aqui. Mas, graças a Deus tenho tido apoio de todos os lados: intelectual, emocional, material, o que tem me permitido seguir.
Hoje estou com uma gripe enorme, coisa rara na minha vida. Bem abatidinha, desde ontem, inclusive, embalada por muito desgaste nesses tempos de estudos e de trabalho coincidindo, pressões emocionais de todo o tipo. A gripe coincide com o maior calor que tá fazendo em Salvador, embalada por  pretensas quedas de temperatura, com ventos e temperaturas que oscilaram esses dias. Meu sistema não aguentou. A essa altura tô bem cansada, mas sigo firme.
Fiz hoje o que mais gosto: respirar o centro de Salvador, andar pela Avenida Sete a troco de nada, só pelo prazer de ver a cidade, enloquecida, transpirar. E foi justamente o que fiz: comprei pedaços de tecidos que talvez eu nunca use - adoro pensar que posso produzir peças artesanais -, checar preço de uma máquina singer, comprei tesouras de tipos diferentes, papéis de presentes, um pote de vick vaporub pra respirar melhor e outras cositas mais. Almocei por lá mesmo. A tentativa era desintoxicar-me do processo difícil de construir textos e tentar "enganar" um pouco a gripe para amanhã poder retomar no batente.
Espero um dia ter você aqui pra gente bater pernas juntas no centro da cidade. Nossa tia Marlene e o tio Ananias vêm a Salvador em fevereiro pra férias. Eles iriam gostar de te ver.

A tout à l'heure.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De conversas e convite para defesa de doutorado

Bonjour,

Ouço Stacey Kent, uma cantora franco-americana dona de uma voz maravilhosa. Você iria gostar...
Aqui envolvida com a escrita da tese, nesse esforço fenomenal. Acho que se você estivesse aqui talvez fosse mais fácil. Não falaríamos, certamente, de mitocôndrias, mas de assuntos recentes de minha carreira, como os novos ambientes de aprendizagem.
Foram ideias iniciadas com a pesquisa sobre blogs quando mais pra frente comecei a discutir sobre a aplicação dessas interfaces em ambientes virtuais de aprendizagem, potencializando ensino-aprendizagem. Mas, o trabalho avançou um pouco e hoje trabalho com cidades educadoras, um modelo novo proposto por uma Ong espanhola, que reúne quase 450 cidades de todo o mundo. Aí discuto a emergência desse projeto e aspectos relativos a interfaces com os novos ambientes virtuais de aprendizagem.
Estou caminhando para em breve defender essa tese. Não seria bom se você pudesse assistir à defesa? Estamos torcendo para que a defesa se dê no início de 2011, um período que, quem sabe, você poderia se programar e vir aqui. Lembra daquela foto da sua defesa de mestrado lá na UFRJ? Acho que tenho até hoje. Momento importante aquele, não?

A tout à l'heure

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De notícias sobre o Rio de Janeiro e ausência de políticas públicas

Bonjour,
Salvador amanheceu com tempo nublado. Estamos assim com o tempo instável já faz uns dias. Hoje está mais fechado, como o tempo no Rio de Janeiro. Fico pensando sempre em vc, que teve uma relação direta com a cidade, como deve estar se sentindo com  toda aquela violência e a guerra declarada entre polícia e o tráfico de drogas. Sofri esses dias aqui, assisitindo a notícias sobre os eventos e lamentando muito que tenhamos chegado a este ponto. Uma completa ausência de um plano de segurança pública. Quem sabe agora todas essas forças eventualmente unidas num plano local, também possam articular algo mais sério e permanente além de UPPs. De nada adianta policiamente sem suprir carências de políticas públicas da população, inclusive educação e preparação ao emprego.
A prima Eliane, sabe, me ligou esses dias comentando o cenário, nervosíssima com  o clima de insegurança em Nilópolis, onde mora, e por toda a baixada fluminense. A prima Adriana naquele dia havia sido liberada mais cedo do trabalho, uma prática adotada para tentar proteger as pessoas de virarem churrasquinho em ônibus incendiados ou mesmo ser alvo de uma bala perdida. Uma amiga minha, baiana, que mora no Rio e ensina na UERJ, resolveu adiar o retorno de Salvador, onde se encontrava para um evento, em função de todos esses conflitos.
Então um evento que  parece situado tão particularmente no Rio de Janeiro afeta todo mundo. Uma guerra cujas notícias  chegam online a todo mundo e enfraquece a imagem e soberania nacionais. Pensamos como sofrem os cariocas e simbolizam assim um sentimento nacional de despreparo contínuo dos governos para enfrentar, não uma guerra do tráfico, mas a necessidade de investimentos em políticas públicas que tornem um Brasil tão desigual em um  país mais igualitário. Damos viva ao governo Lula que tem uma visão mais lúcida sobre a questão, mais ainda falta muito para tirar a população das mãos não só da pobreza e do tráfico, mas também de todas as condições inseguras como a falta de acesso à saúde, educação, como você bem acompanha de perto.
Até mais!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

De sala de embarque e vestidos em duplo

Bonjour,

      Aeroporto de Brasília

Estamos aqui em Salvador no horário de verão. Dias desses retornando de Abadiânia por Brasília, lembrei-me de você. No aeroporto, na sala de embarque contígua à minha, uma placa de vôo chamou minha atenção. A placa informava que o vôo para Rio Branco tinha sido encerrado. Muita gente permanecia ali sentada, naturalmente à espera de outro vôo, no processo contínuo de embarques numa manhã de domingo. A cena me causou melancolia. Pensei: - E se coincidisse você estar naquela sala de embarque? Seria um encontro inusitado mesmo. Mas de qualquer sorte, será que você me reconheceria? E eu a você? Sinceramente não sei.
Os anos se passaram e na nossa mente ficam sempre lembranças mais emocionais do que físicas mesmos. E eu mudei muito, talvez você não me reconhecesse mesmo. Daqueles tempo de Rio de Janeiro acho que são as últimas lembranças. Talvez as mais firmes. Depois desses anos de doutorado em educação, o stress é tanto, que eu mesma nem me reconheço às vezes.
Lembra como na infância éramos parecidas? Nossa mãe vestia a nós duas como se gêmeas fôssemos. Os vestidinhos iguais, alías, que você detestava! Hoje eu entendo e concordo. Que negócio era aquele de confundir nossas identidades? Você com a sua, marcante. Eu com a minha, bem diferente! Ainda bem que você se rebelou e protestou até um dia que esse velho costume se foi.
Bem, voltando ao embarque, quem sabe você um dia pega um vôo pra Salvador, vindo aqui, pode manter contato. O canal estará sempre aberto!

Até mais!

Bonjour,
Estamos aqui em Salvador no horário de verão. Dias desses retornando de Abadiânia por Brasília, lembrei-me de você. No aeroporto, na sala de embarque contígua à minha, uma placa de vôo chamou minha atenção. A placa informava que o vôo para Rio Branco tinha sido encerrado. Muita gente permanecia ali sentado, naturalmente à espera de outro vôo, no processo contínuo de embarques numa manhã de domingo. A cena me causou melancolia. Pensei: - E se coincidisse você estar naquela sala de embarque? Seria um encontro inusitado mesmo. Mas de qualquer sorte, será que você me reconheceria? E eu a você? Sinceramente não sei.
Os anos se passaram e na nossa mente ficam sempre lembranças mais emocionais do que físicas mesmos. E eu mudei muito, talvez você não me reconhecesse mesmo. Daqueles tempo de Rio de Janeiro

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bonjour,
Sei o quanto você é politi

domingo, 12 de setembro de 2010

De doce de coco e anel

Bonjour,
Chove bastante neste momento em Salvador. O dia foi de céu nublado e alguns momentos de sol. Aproveitei para fazer uma sobremesa de coco verde, que necessariamente me remeteu a tempos longínquos, quando crianças em Pombal. Como gostávamos de coco, não? Em verdade, acho que ali tive despertada a curiosidade pela cozinha, em tempos em que fazíamos doce de coco. Esta é uma das minhas lembranças mais fortes, embora eu, de novo, não as associe a você. Como eu era um pouco errante, talvez nossos times fossem realmente diferentes, e o certo é que me sobraram poucos lembranças de você daquele tempo.
De Virgínia, caçula, certamente, pois eu era a pessoa encarregada, suponho, de tomar conta dela. Então, as brincadeiras que a envolviam eu me lembro bem. E o trabalho que dava também, pois ela era quatro anos mais nova do que eu, e bem sapequinha.
Vêm-me lembranças associadas da rua em que moramos durante muito tempo. Dezenas de crianças em torno das brincadeiras de baleado, esconde-esconde. E aqueles sapos-boi que povoavam o bairro especialmente no inverno? Nossa, não sei de onde saíam tantos! Não sei se você se lembra de umas histórias envolvendo um lobisomem, que eu assombrada, não conseguia dormir direito. Atrás da porta do nosso quarto tinha um cabide e eu sempre acreditei que ali existissem fantasmas. Como eu era supermedrosa naquele período de tantos fantasmas literais!. E você lembra daquele hospital e da capela que ficava à vista, contígua ao muro bem extenso? Nossa, passar ali à noite era sempre um tormento. E pernas pra que te quero!
São essas lembranças que ainda vivem em mim. Lembranças de um bairro bastante movimentado, de ruas amplas, de vizinhança e cheiro de castanhas sendo  torradas, passarinhos caçados por uma penca de meninos virando homens - lembra quando eles despejavam o produto da çaça. um tanto de passarinhos assim todos mortos? Não entendia bem aquela aventura! Ficava ali parada diante daqueles personagens abatidos com tiros de estilingue e sentia pena...
Ah! Sabe quando nos reuníamos à noite todas as crianças e tinha aquela brincadeira do anel: "Guarde esse anelzinho bem guardadinho" pra outra criança advinhar em que mãos estava? Bem, eu odiava! Achava aquela brincadeira muito chata e sem graça. Acho que era muito óbvia e muito lenta. Não combinava com meu temperamento de descobertas! Mas aquele sentimento infelizmente fiquei prá mim!

Até mais!

sábado, 11 de setembro de 2010

De natal em Alagodé e futuras narrativas digitais

Bonsoir,

Pensei muito em vc esses dias. Especialmente porque mãe está em Aracaju e a presença dela lá me faz pensar em vc.
Ela me dizia da intenção de passar o natal em casa, de retorno a Alagodé, mas Jorge parece não confirmar a informação. Eu, pessoalmente, acredito ser a melhor coisa a fazer, dado o fato que passar os dias na companhia quase que exclusiva de uma cuidadora não é a melhor das hipóteses para ninguém. Virgínia também pensa como eu. E é uma pena que vc não esteja por aqui para colhermos sua opinião também.

Aqui em Salvador o clima está atípico para um mês de setembro. Continuamos com temperaturas amenas durante o dia e noites bem frias, especialmente na madrugada. Tenho sempre um edredon do lado, em caráter preventivo, mas muitas vezes lanço mão dele para aplacar esse frio.

No mais, sempre às voltas com o trabalho na empresa e as pesquisas para o doutorado. Também tenho me distraído com sites interessantes e investimentos em trabalhos artesanais, que me fazem muito bem. Dia desses conheci o site http://www.shewrites.com/, dedicado a mulheres afegãs. O site foi fundado por uma escritora americana que incentiva mulheres, não só afegãs, mas de todo mundo, com suas narrativas.

Eu me interesso bastante, haja vista que no futuro próximo devo desenvolver melhor esse meu lado criato, de escritora. No primeiro semestre, publicando um livro pela Brasiliense, e na sequência dedicando-me à literatura e às minhas narrativas, sejam escritas ou mesmo digiitais. A idéia é criar mecanismos discursivos por meio das tecnologias digitais. Daí vamos ver o que construímos, não é mesmo?

Bem, desejo que tudo esteja correndo muito bem. E sempre com saudades, no aguardo de notícias suas.

Até mais!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

De clima desértico e previsão do tempo

Bonjour,

Já se passaram alguns dias desde a última visita. Tenho andado bastante ocupada, cuidando da escrita da minha tese de doutorado, por isso o meu silêncio. Este foi um mês atípico, mas bastante proveitoso. Acabei de voltar de Abadiânia, creio que não conheça esse lugarejo em Goiás. O tempo por lá andou tão seco esses dias, a umidade relativa do ar promovendo um clima de deserto.
Aí não tem jeito, todos de olho na meteorologia. E eu na moça do tempo. Sempre que se refere ao Norte, vejo como está o tempo por aí. Em geral, bem diferente do nosso, aqui na orla Nordeste do Brasil. Não tem jeito. Sempre observo as zonas amarelas ou muito vermelhas, sinal de sol, e verdes, para a previsão de chuvas. E penso como é que deve ser por aí numa região tão árida em termos de desenvolvimento. Vejo que chove muito também e muitas  vezes a temperatura cai também.
Como será viver no Norte? É sempre uma pergunta recorrente. Como será seu dia-a-dia com tantos compromissos, pacientes a atender, aulas por preparar? Espero que seja um lugar bem acolhedor.

Até mais,

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

De burocracia, medicina e trabalho peão

Bonjour,

Ontem lembrei-me de você. Fui a uma clínica fazer um teste ergométrico e depois um ecocardioagrama. Exames de rotina. Observei como a medicina está cada vez mais impessoal e burocrática. Pessoalmente tenho alergia a médicos, hospital, essas coisas. Ida, só preventivamente e em último caso!
Pra começar, não se é mais necessário saber em que contexto você se encontra e o que lhe traz ali. Se é um exame como esse (teste ergométrico), as perguntas têm malmente a ver com o diagnóstico relativo ao quadro: peso, altura, colesterol alto? Diabetes? Hipertensão? Ah! E antes do exame se vc está alimentada.
O procedimento prossegue com um profissional limitado a tomar sua pressão, colocar os dados numa máquina e lhe informar que a esteira vai entrar num nova frequência, que é pra vc ir se ambientando com o próximo esforço antes da exaustão. Dessa vez  - a médica bem nova que mal me deu um bom dia e sequer um até logo - me perguntou a certa altura do exame em que nível de esforço eu supunha me encontrar. - Entre zero e 10", complementou. E àquela altura eu considerava estar num nível cinco. Daí em diante a esteira puxou.
Ao final, nem uma palavra sequer sobre o procedimento, apenas adiantou que o resultado do exame estaria pronto em 10 minutos. Não fosse a minha pergunta sobre o meu estado geral, nada teria sido dito.
O procedimento foi feito numa sala de uns oito metros quadrados, seis dos quais destinados à esteira, uma maca, um computador e uma cadeira. Atrás de um biombo contíguo já se encontrava um novo paciente, na mesma sala, nos dois metros restantes, preparando-se para entrar tão logo eu descesse da esteira. Enquanto ele se aprontava, tendo a gordura corporal retirada com um chumaço de éter, eu era obrigada a inalar aquela substância à qual a maioria das pessoas se sente indisposta na presença. Quem gosta de cheiro de hospital e de lembranças de injeção????
Pois bem, não foi difícil lembrar-me de você, de quão é dura essa profissão que você escolheu. À tarde, já deitada para um novo procedimento - um ecocardiograma - o médico que realizava o exame - já com outra postura de quem sabe que muito do glamour da área médica é ilusório - confessava-me: - Vc sabe, médico  é peão mesmo"!. O comentário aludia ao fato de que - como não pôde deixar de ser - me referia a você (ah! sabe, eu tenho uma irmã médica, mas ela não mora aqui!) e de me reportar o quanto vc trabalha, além da Universidade nesses empregos públicos!
Até mais!

domingo, 8 de agosto de 2010

De Santa Tereza, ãnima e meias no Dia dos Pais

Bonjour,


Faperj
Hoje lembrei-me de você. Como poderia deixar de fazê-lo? É dia dos pais! Nosso irmão Gute enviou uma mensagem logo cedo. Mas, estranhamente, você não faz parte de minhas lembranças relacionadas a essa data. Estranho eu me dar conta disso também. Nem quando morávamos todos juntos em Alagoinhas nem mesmo em Aracaju, em nossa curta passagem (eu, de dois anos) hospedados por Gute.
Acredito que não tínhamos mesmo os mesmos times. Eu menorzinha do que você, talvez mais absorvida pelas novidades da infância e depois da adolescência, creio que nos cruzávamos pouco.
Saindo da adolescência, depois do período em Aracaju, entrei para a faculdade, aí mesmo que nos perdemos. Enquanto eu corria atrás de uma formação no curso de jornalismo da Facom, você terminava o seu curso de medicina e em seguida mudou-se para  o Rio de Janeiro. De lá, lembro apenas daquela visita - vc com um cabelo meio pigmaleão, bem à vontade - me encontrando no aeroporto, a viagem de ônibus. Aquela ali eu nunca esqueci! Como também não esqueci do quão era labiríntico aquele convento de freiras que você morava. Nossa, são tão fortes as lembranças, de tantos quartos que se perdiam em corredores que lembravam opressão. Não se podia falar alto, tinha-se horário para tudo e as freiras não podiam ser incomodadas. E ainda tinha o horário de retorno. Nunca depois das 10 horas! Mas eu lembro também do bondinho de Santa Tereza - que nós subíamos e desceíamos para ir ao centro - e ele sempre cheio! Você sabe, outro dia retornei ali com uma amiga e não pude deixar de relembrar aquela experiência. Fomos ao ensaio de um bloco carnavalesco famoso, Os Carmelitas. Ah! O amigo dela, que eu conheci, é um dos fundadores. As ruas enchem, tem-se muito problema para estacionar - por causa das ruas estreitas -, os jovens enchem a cara de álcool e outras drogas - literalmente - enaqunto o samba corre solto. É um grupo bem tradicional e a festa corre até altas horas. Também foi em Santa Tereza que nessa mesma viagem saboreei uma feijoada deliciosa. Do boteco, um point, trouxe além do sabor da iguaria nacional, lembranças dos bondes feitos de lata. Lindos, por  sinal!
Sabe o que me marca em Dia dos Pais? É que eu era sempre monocórdica no que dizia respeito a presentes. Trazia todo o ano meias de presente ao nosso pai. Sim, meias! Tem presente mais sem graça pra se dar a alguém importante? Lamento hoje que tenha por anos praticado algo tão sem sal para uma pessoa tão cheia de riqueza anímica: ouvia sua própria música, lia os próprios livros, adora telejornais, o jornal de domingo, as notícias do mundo de hoje...
Até mais!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

De infância, rebolation e repique

Bonjour,
Fim de semana que passou fui a Aracaju. Nosso sobrinho Vinicius fez 17 anos na quinta, 29, e fui comemorar com ele. Claro, lembrei-me de você. Vieram à mente as imagens de como vocês eram apegados, ele bem pequeninho, bem danadinho, um pestinha correndo pra lá e pra cá nos corredores do Edifício Jangada, no centro de Aracaju, de grandes lembranças.
Ele cresceu, como você pode perceber. Aquele meninho (lembra dessa foto aí?  Vc e Vinicius aos 4 anos!) agora é um rapazinho. Faz o segundo ano do ensino médio e já se prepara para o vestibular. Está desde pequeninho no Colégio Arc Diocesano, que você acompanhou bem. Agora estuda pela manhã, que é pra acabar com a preguiça. Mudou de turma também. O pai tá no pele dele, que está tendo de se rebolar. Por enquanto, o rebolado mais esforçado é
seguindo o vocalista Léo Santana, do Parangolé,de quem é fã incondicional. Agora adotou a mesma indumentária, incluindo o boné.
É mesmo uma figura! Bem alegre e cheio de chistes! Indagado sobre o que quer ser na vida, está indeciso, como todo adolescente, entre administração, direito ou veterinária. Agora, a motivação mesmo é música. Além de seguir Léo Santana pra todo lado, também resolveu montar uma banda. E já tem alguns integrantes: baixista, saxofonista. Ele próprio ganhou da mãe um instrumento de percussão, e na escola tá treinando na banda um instrumento chamado repique. Vamos aguardar toda essa formação.
Até mais!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

De curso de direção e matinées em Alagoinhas

Bonjour,
Hoje eu lembrei de você. Passei a manhã no curso de direção de cinema com o cineasta chileno Miguel Littin. Voltei aos tempos de criança em Alagoinhas, quando morávamos na Rua Carlos Gomes, n. 101, bem próximo do posto de gasolina e ao lado do bureau de negócios de nosso pai. Dali colho as melhores lembranças. Dentre elas, numa fase em que o posto do vizinho foi à falência, eu acho, costumava circular por ali com nossas irmãs Sueli e Virgínia e a dupla de vizinhos nossos amigos, que nos acompanhava em nossas peripécias. Nessa fase, com uns 10 anos, não me lembro ao certo como era o seu dia-a-dia porque em verdade gostávamos de circular pelo mundo. Acredito que com dois anos a mais que eu, você já fosse uma mocinha e estivesse num patamar existencial mais elevado.
Bem, em nosso caso, corríamos atrás de colecionar umas certas fichas coloridas que pareciam resquício de jogo de azar, algum cassino clandestino, talvez. Não sabemos ao certo. Lembo-me de que eram centenas e eu gostava de manuseá-las e de brincar com as irmãs menores com aquelas coisas que instigavam a imaginação.
É desse tempo a ideia de liderança que realizava com esses dois amigos vizinhos - não lembro mais os nomes deles, mas a imagem daqueles tempos continua viva - e com nossas irmãs menores, uma com 8, outra com 6. Eu era a mais velha e liderava o grupo com minhas fantasias.
Vem dessa época o hábito de escrever historinhas que me lembrei hoje. Tenho uma lembrança perfeita de desenhar, sentada nos degraus da casa 101, da Rua Carlos Gomes, uma das dezenas de historietas feitas para serem exibidas em películas. Eu desenhava as histórias (pode ser com h mesmo) em cima de rolos de máquinas registradoras de supermercados que eu mesma comprava, e apresentava as histórias prontas para esse grupo que eu liderava e outros vizinhos, os da direita, filha e neto da dona de uma pensão ao lado. A fita corria dentro de uma caixa de pó daquelas antigas que minha mãe costumava usar e quando acabava o pó, servia de telinha de cinema. E eu fixava a fita de um lado numa caneta, a fita se desenrolava enquanto era puxada do outro lado. Tudo bem artesanal, mas era cinema. Tinha platéia e tudo!
Lembra o quanto era cinéfilas nesta época. Meu pai costumava bancar nossas entradas nas matinés do Cine Alagoinhas, de grande memória. Eu, ali, fascinada com muitos filmes que marcaram a minha vida, dentre eles, a memóravel vida de Valdick Soriano, acho que foi um dos últimos a serem vistos. Aquilo tudo me marcou. E pena que dali pra frente o cinema no interior evaporou sem apoio e aquelas duas grandes salas que eu conheci na cidade, transformaram-se em salas para sessões de igrejas evangélicas.

Até mais!

sábado, 24 de julho de 2010

De consulta médica e lembranças

Bonjour,
Esses dias lembrei-me de você, como de costume. Fui a uma médica cardiologista que uma colega de trabalho me indicara para exames de rotina. A médica, Dra Fátima, um luxo de alegria e autenticidade.
Mas é normal que estando em frente a algum médico, seja de que especialidade for, eu sempre lembre de você. Antigamente era mais grave e eu sempre me reportava ao dado de que tenho uma irmã médica. "Sabe, eu tenho uma irmã médica, é cardiologista, mas ela não mora aqui...". Acho que era algum tipo de ato compensatório, um detalhe para eu falar de você e me recompensar da sua ausência...
Naquela viagem que fiz em 1995 à Pensilvânia (EUA), sempre me reportava ao fato de que tinha uma irmã mestranda em fisiologia na UFRJ e que tinha escrito um artigo aceito numa revista internacional. Deve ter sido o artigo mais mais comentado que conheci. Meu amigo Wayne Selcher, professor do Elizabethtown College, que me acompanhava, já não me aguentava falar a mesma coisa. O mesmo valia para outro amigo na Fildadélfia, que foi me hospedou e foi meu cicerone por uns dias. Acho que ele concluía o quanto eu era tola em repetir, repetir, repetir um dado corriqueiro na vida dos americanos, que é a alguém fazendo academia, mas eu não queria saber, tinha mesmo uma irmã que fazia mestrado em fisiologia cardíaca. E eu tinha orgulho disso. Ah, até hoje mantenho comigo a cópia do artigo assinado que vc me enviou. A propósito, tem escrito mais algum artigo?
Até mais!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

De aniversário e perdas

Bonsoir,
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Olá,

segunda-feira, 12 de julho de 2010

De telegrama e aniversário

Olá,
É, vc sabe, hoje falando com mãe, ela comentou sobre o seu aniversário desse ano. Me disse que passou um telegrama, vc recebeu? Nesse telegrama lhe repetia o que te falara no último post. Entre parabéns, muitas felicidades e votos de saúde e paz, amor também, me falou que colocou à disposição o apto, que tem um quarto pra vc, essas coisas...Ela vive ligada em vc, esperando o dia que vc possa lhe dar o prazer da visita. Nós também, é claro.
Ah! Hoje ela também me contou que a D. Tal apareceu com Manu numa visita rápida. Parecia, segundo ela, que Manu, estaria de mudança para Salvador. A nota triste é que, mesmo sendo vizinhas, mãe não recebeu o comunicado dessa mudança. Só tenta advinhar o motivo de pessoas apressadas passando por lá pelo condomínio...
Fico por aqui hoje.
Bonsoir.

domingo, 11 de julho de 2010

De notícias e filosofia do direito


Olá,
Mãe manda lembranças. Você sabe, desde o ano passado ela está morando em Aracaju. Em setembro faz um ano. O condomínio é o mesmo de Sueli e de Manuela. Você sabe, Manu cresceu e agora é uma estudante de Direito. Sabe qual é a matéria que ela revelou que mais gostava logo que entrou no curso? Filosofia do Direito. Fiquei pensando como é que uma figurinha de 18 anos é tão elevada a ponto de sua matéria preferida ser Filosofia do Direito! É linda mesmo, desde sempre. Você precisa ver! Ah! Ela tá no orkut. Veja a fotinha dela aqui...

Então, continuando, sempre que falo com mãe pelo celular - ah! a velhinha agora (tá com 84 anos!) fala pelo celular. E sempre me pede pra colocar créditos... Nos últimos tempos, sempre com aquela mania de investimentos lotéricos, queria comprar aquele bolão do Faustão.
Ela seeeeeeeempre quer saber de você, ter notícias suas. Você sabe que ela já reservou um dos quartos do apartamento pra você? Pois é, diz que a hora que você quiser, pode ocupar...
Todos pensamos em você. Mãe reza sempre e tem esperanças de ainda te ver. Nós também. Independente se para ela o tempo possa não estar assim tão disponível. E pra nós, a gente também nunca sabe...
E ela o que sente? O mesmo amor de mãe que dedicou a todo nós. Tem o tantinho pra você também. Um tantão, eu diria...
E ela tá sempre ali ligada. Sempre rezando para que você dê notícias.
Você tão longe, dei-lhe uma dica para que mandasse uma carta para a universidade. Torço para que tenha chegado até você. Por aqui nós todos te amamos.

Até mais,

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De pesquisa monográfica e estudos na biblioteca da Universidade

Teresa de Jesus Pessoa (Farias )  Bonjour,  Hoje é mais um dia que escolho o campus da UFBA para me dedicar às pesquisas sobre nossa tia-avó...