segunda-feira, 26 de julho de 2010

De curso de direção e matinées em Alagoinhas

Bonjour,
Hoje eu lembrei de você. Passei a manhã no curso de direção de cinema com o cineasta chileno Miguel Littin. Voltei aos tempos de criança em Alagoinhas, quando morávamos na Rua Carlos Gomes, n. 101, bem próximo do posto de gasolina e ao lado do bureau de negócios de nosso pai. Dali colho as melhores lembranças. Dentre elas, numa fase em que o posto do vizinho foi à falência, eu acho, costumava circular por ali com nossas irmãs Sueli e Virgínia e a dupla de vizinhos nossos amigos, que nos acompanhava em nossas peripécias. Nessa fase, com uns 10 anos, não me lembro ao certo como era o seu dia-a-dia porque em verdade gostávamos de circular pelo mundo. Acredito que com dois anos a mais que eu, você já fosse uma mocinha e estivesse num patamar existencial mais elevado.
Bem, em nosso caso, corríamos atrás de colecionar umas certas fichas coloridas que pareciam resquício de jogo de azar, algum cassino clandestino, talvez. Não sabemos ao certo. Lembo-me de que eram centenas e eu gostava de manuseá-las e de brincar com as irmãs menores com aquelas coisas que instigavam a imaginação.
É desse tempo a ideia de liderança que realizava com esses dois amigos vizinhos - não lembro mais os nomes deles, mas a imagem daqueles tempos continua viva - e com nossas irmãs menores, uma com 8, outra com 6. Eu era a mais velha e liderava o grupo com minhas fantasias.
Vem dessa época o hábito de escrever historinhas que me lembrei hoje. Tenho uma lembrança perfeita de desenhar, sentada nos degraus da casa 101, da Rua Carlos Gomes, uma das dezenas de historietas feitas para serem exibidas em películas. Eu desenhava as histórias (pode ser com h mesmo) em cima de rolos de máquinas registradoras de supermercados que eu mesma comprava, e apresentava as histórias prontas para esse grupo que eu liderava e outros vizinhos, os da direita, filha e neto da dona de uma pensão ao lado. A fita corria dentro de uma caixa de pó daquelas antigas que minha mãe costumava usar e quando acabava o pó, servia de telinha de cinema. E eu fixava a fita de um lado numa caneta, a fita se desenrolava enquanto era puxada do outro lado. Tudo bem artesanal, mas era cinema. Tinha platéia e tudo!
Lembra o quanto era cinéfilas nesta época. Meu pai costumava bancar nossas entradas nas matinés do Cine Alagoinhas, de grande memória. Eu, ali, fascinada com muitos filmes que marcaram a minha vida, dentre eles, a memóravel vida de Valdick Soriano, acho que foi um dos últimos a serem vistos. Aquilo tudo me marcou. E pena que dali pra frente o cinema no interior evaporou sem apoio e aquelas duas grandes salas que eu conheci na cidade, transformaram-se em salas para sessões de igrejas evangélicas.

Até mais!

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