Bonjour,
Hoje eu lembrei de você. Passei a manhã no curso de direção de cinema com o cineasta chileno Miguel Littin. Voltei aos tempos de criança em Alagoinhas, quando morávamos na Rua Carlos Gomes, n. 101, bem próximo do posto de gasolina e ao lado do bureau de negócios de nosso pai. Dali colho as melhores lembranças. Dentre elas, numa fase em que o posto do vizinho foi à falência, eu acho, costumava circular por ali com nossas irmãs Sueli e Virgínia e a dupla de vizinhos nossos amigos, que nos acompanhava em nossas peripécias. Nessa fase, com uns 10 anos, não me lembro ao certo como era o seu dia-a-dia porque em verdade gostávamos de circular pelo mundo. Acredito que com dois anos a mais que eu, você já fosse uma mocinha e estivesse num patamar existencial mais elevado.
Bem, em nosso caso, corríamos atrás de colecionar umas certas fichas coloridas que pareciam resquício de jogo de azar, algum cassino clandestino, talvez. Não sabemos ao certo. Lembo-me de que eram centenas e eu gostava de manuseá-las e de brincar com as irmãs menores com aquelas coisas que instigavam a imaginação.
É desse tempo a ideia de liderança que realizava com esses dois amigos vizinhos - não lembro mais os nomes deles, mas a imagem daqueles tempos continua viva - e com nossas irmãs menores, uma com 8, outra com 6. Eu era a mais velha e liderava o grupo com minhas fantasias.
Vem dessa época o hábito de escrever historinhas que me lembrei hoje. Tenho uma lembrança perfeita de desenhar, sentada nos degraus da casa 101, da Rua Carlos Gomes, uma das dezenas de historietas feitas para serem exibidas em películas. Eu desenhava as histórias (pode ser com h mesmo) em cima de rolos de máquinas registradoras de supermercados que eu mesma comprava, e apresentava as histórias prontas para esse grupo que eu liderava e outros vizinhos, os da direita, filha e neto da dona de uma pensão ao lado. A fita corria dentro de uma caixa de pó daquelas antigas que minha mãe costumava usar e quando acabava o pó, servia de telinha de cinema. E eu fixava a fita de um lado numa caneta, a fita se desenrolava enquanto era puxada do outro lado. Tudo bem artesanal, mas era cinema. Tinha platéia e tudo!
Lembra o quanto era cinéfilas nesta época. Meu pai costumava bancar nossas entradas nas matinés do Cine Alagoinhas, de grande memória. Eu, ali, fascinada com muitos filmes que marcaram a minha vida, dentre eles, a memóravel vida de Valdick Soriano, acho que foi um dos últimos a serem vistos. Aquilo tudo me marcou. E pena que dali pra frente o cinema no interior evaporou sem apoio e aquelas duas grandes salas que eu conheci na cidade, transformaram-se em salas para sessões de igrejas evangélicas.
Até mais!
segunda-feira, 26 de julho de 2010
De curso de direção e matinées em Alagoinhas
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
sábado, 24 de julho de 2010
De consulta médica e lembranças
Bonjour,
Esses dias lembrei-me de você, como de costume. Fui a uma médica cardiologista que uma colega de trabalho me indicara para exames de rotina. A médica, Dra Fátima, um luxo de alegria e autenticidade.
Mas é normal que estando em frente a algum médico, seja de que especialidade for, eu sempre lembre de você. Antigamente era mais grave e eu sempre me reportava ao dado de que tenho uma irmã médica. "Sabe, eu tenho uma irmã médica, é cardiologista, mas ela não mora aqui...". Acho que era algum tipo de ato compensatório, um detalhe para eu falar de você e me recompensar da sua ausência...
Naquela viagem que fiz em 1995 à Pensilvânia (EUA), sempre me reportava ao fato de que tinha uma irmã mestranda em fisiologia na UFRJ e que tinha escrito um artigo aceito numa revista internacional. Deve ter sido o artigo mais mais comentado que conheci. Meu amigo Wayne Selcher, professor do Elizabethtown College, que me acompanhava, já não me aguentava falar a mesma coisa. O mesmo valia para outro amigo na Fildadélfia, que foi me hospedou e foi meu cicerone por uns dias. Acho que ele concluía o quanto eu era tola em repetir, repetir, repetir um dado corriqueiro na vida dos americanos, que é a alguém fazendo academia, mas eu não queria saber, tinha mesmo uma irmã que fazia mestrado em fisiologia cardíaca. E eu tinha orgulho disso. Ah, até hoje mantenho comigo a cópia do artigo assinado que vc me enviou. A propósito, tem escrito mais algum artigo?
Até mais!
Esses dias lembrei-me de você, como de costume. Fui a uma médica cardiologista que uma colega de trabalho me indicara para exames de rotina. A médica, Dra Fátima, um luxo de alegria e autenticidade.
Mas é normal que estando em frente a algum médico, seja de que especialidade for, eu sempre lembre de você. Antigamente era mais grave e eu sempre me reportava ao dado de que tenho uma irmã médica. "Sabe, eu tenho uma irmã médica, é cardiologista, mas ela não mora aqui...". Acho que era algum tipo de ato compensatório, um detalhe para eu falar de você e me recompensar da sua ausência...
Naquela viagem que fiz em 1995 à Pensilvânia (EUA), sempre me reportava ao fato de que tinha uma irmã mestranda em fisiologia na UFRJ e que tinha escrito um artigo aceito numa revista internacional. Deve ter sido o artigo mais mais comentado que conheci. Meu amigo Wayne Selcher, professor do Elizabethtown College, que me acompanhava, já não me aguentava falar a mesma coisa. O mesmo valia para outro amigo na Fildadélfia, que foi me hospedou e foi meu cicerone por uns dias. Acho que ele concluía o quanto eu era tola em repetir, repetir, repetir um dado corriqueiro na vida dos americanos, que é a alguém fazendo academia, mas eu não queria saber, tinha mesmo uma irmã que fazia mestrado em fisiologia cardíaca. E eu tinha orgulho disso. Ah, até hoje mantenho comigo a cópia do artigo assinado que vc me enviou. A propósito, tem escrito mais algum artigo?
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
De aniversário e perdas
Bonsoir,
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Olá,
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
De telegrama e aniversário
Olá,
É, vc sabe, hoje falando com mãe, ela comentou sobre o seu aniversário desse ano. Me disse que passou um telegrama, vc recebeu? Nesse telegrama lhe repetia o que te falara no último post. Entre parabéns, muitas felicidades e votos de saúde e paz, amor também, me falou que colocou à disposição o apto, que tem um quarto pra vc, essas coisas...Ela vive ligada em vc, esperando o dia que vc possa lhe dar o prazer da visita. Nós também, é claro.
Ah! Hoje ela também me contou que a D. Tal apareceu com Manu numa visita rápida. Parecia, segundo ela, que Manu, estaria de mudança para Salvador. A nota triste é que, mesmo sendo vizinhas, mãe não recebeu o comunicado dessa mudança. Só tenta advinhar o motivo de pessoas apressadas passando por lá pelo condomínio...
Fico por aqui hoje.
Bonsoir.
É, vc sabe, hoje falando com mãe, ela comentou sobre o seu aniversário desse ano. Me disse que passou um telegrama, vc recebeu? Nesse telegrama lhe repetia o que te falara no último post. Entre parabéns, muitas felicidades e votos de saúde e paz, amor também, me falou que colocou à disposição o apto, que tem um quarto pra vc, essas coisas...Ela vive ligada em vc, esperando o dia que vc possa lhe dar o prazer da visita. Nós também, é claro.
Ah! Hoje ela também me contou que a D. Tal apareceu com Manu numa visita rápida. Parecia, segundo ela, que Manu, estaria de mudança para Salvador. A nota triste é que, mesmo sendo vizinhas, mãe não recebeu o comunicado dessa mudança. Só tenta advinhar o motivo de pessoas apressadas passando por lá pelo condomínio...
Fico por aqui hoje.
Bonsoir.
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
domingo, 11 de julho de 2010
De notícias e filosofia do direito
Olá,
Mãe manda lembranças. Você sabe, desde o ano passado ela está morando em Aracaju. Em setembro faz um ano. O condomínio é o mesmo de Sueli e de Manuela. Você sabe, Manu cresceu e agora é uma estudante de Direito. Sabe qual é a matéria que ela revelou que mais gostava logo que entrou no curso? Filosofia do Direito. Fiquei pensando como é que uma figurinha de 18 anos é tão elevada a ponto de sua matéria preferida ser Filosofia do Direito! É linda mesmo, desde sempre. Você precisa ver! Ah! Ela tá no orkut. Veja a fotinha dela aqui...
Então, continuando, sempre que falo com mãe pelo celular - ah! a velhinha agora (tá com 84 anos!) fala pelo celular. E sempre me pede pra colocar créditos... Nos últimos tempos, sempre com aquela mania de investimentos lotéricos, queria comprar aquele bolão do Faustão.
Ela seeeeeeeempre quer saber de você, ter notícias suas. Você sabe que ela já reservou um dos quartos do apartamento pra você? Pois é, diz que a hora que você quiser, pode ocupar...
Todos pensamos em você. Mãe reza sempre e tem esperanças de ainda te ver. Nós também. Independente se para ela o tempo possa não estar assim tão disponível. E pra nós, a gente também nunca sabe...
E ela o que sente? O mesmo amor de mãe que dedicou a todo nós. Tem o tantinho pra você também. Um tantão, eu diria...
E ela tá sempre ali ligada. Sempre rezando para que você dê notícias.
Você tão longe, dei-lhe uma dica para que mandasse uma carta para a universidade. Torço para que tenha chegado até você. Por aqui nós todos te amamos.
Até mais,
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
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