Bonjour,
Sei o quanto você é politi
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
domingo, 12 de setembro de 2010
De doce de coco e anel
Bonjour,
Chove bastante neste momento em Salvador. O dia foi de céu nublado e alguns momentos de sol. Aproveitei para fazer uma sobremesa de coco verde, que necessariamente me remeteu a tempos longínquos, quando crianças em Pombal. Como gostávamos de coco, não? Em verdade, acho que ali tive despertada a curiosidade pela cozinha, em tempos em que fazíamos doce de coco. Esta é uma das minhas lembranças mais fortes, embora eu, de novo, não as associe a você. Como eu era um pouco errante, talvez nossos times fossem realmente diferentes, e o certo é que me sobraram poucos lembranças de você daquele tempo.
De Virgínia, caçula, certamente, pois eu era a pessoa encarregada, suponho, de tomar conta dela. Então, as brincadeiras que a envolviam eu me lembro bem. E o trabalho que dava também, pois ela era quatro anos mais nova do que eu, e bem sapequinha.
Vêm-me lembranças associadas da rua em que moramos durante muito tempo. Dezenas de crianças em torno das brincadeiras de baleado, esconde-esconde. E aqueles sapos-boi que povoavam o bairro especialmente no inverno? Nossa, não sei de onde saíam tantos! Não sei se você se lembra de umas histórias envolvendo um lobisomem, que eu assombrada, não conseguia dormir direito. Atrás da porta do nosso quarto tinha um cabide e eu sempre acreditei que ali existissem fantasmas. Como eu era supermedrosa naquele período de tantos fantasmas literais!. E você lembra daquele hospital e da capela que ficava à vista, contígua ao muro bem extenso? Nossa, passar ali à noite era sempre um tormento. E pernas pra que te quero!
São essas lembranças que ainda vivem em mim. Lembranças de um bairro bastante movimentado, de ruas amplas, de vizinhança e cheiro de castanhas sendo torradas, passarinhos caçados por uma penca de meninos virando homens - lembra quando eles despejavam o produto da çaça. um tanto de passarinhos assim todos mortos? Não entendia bem aquela aventura! Ficava ali parada diante daqueles personagens abatidos com tiros de estilingue e sentia pena...
Ah! Sabe quando nos reuníamos à noite todas as crianças e tinha aquela brincadeira do anel: "Guarde esse anelzinho bem guardadinho" pra outra criança advinhar em que mãos estava? Bem, eu odiava! Achava aquela brincadeira muito chata e sem graça. Acho que era muito óbvia e muito lenta. Não combinava com meu temperamento de descobertas! Mas aquele sentimento infelizmente fiquei prá mim!
Até mais!
Chove bastante neste momento em Salvador. O dia foi de céu nublado e alguns momentos de sol. Aproveitei para fazer uma sobremesa de coco verde, que necessariamente me remeteu a tempos longínquos, quando crianças em Pombal. Como gostávamos de coco, não? Em verdade, acho que ali tive despertada a curiosidade pela cozinha, em tempos em que fazíamos doce de coco. Esta é uma das minhas lembranças mais fortes, embora eu, de novo, não as associe a você. Como eu era um pouco errante, talvez nossos times fossem realmente diferentes, e o certo é que me sobraram poucos lembranças de você daquele tempo.
De Virgínia, caçula, certamente, pois eu era a pessoa encarregada, suponho, de tomar conta dela. Então, as brincadeiras que a envolviam eu me lembro bem. E o trabalho que dava também, pois ela era quatro anos mais nova do que eu, e bem sapequinha.
Vêm-me lembranças associadas da rua em que moramos durante muito tempo. Dezenas de crianças em torno das brincadeiras de baleado, esconde-esconde. E aqueles sapos-boi que povoavam o bairro especialmente no inverno? Nossa, não sei de onde saíam tantos! Não sei se você se lembra de umas histórias envolvendo um lobisomem, que eu assombrada, não conseguia dormir direito. Atrás da porta do nosso quarto tinha um cabide e eu sempre acreditei que ali existissem fantasmas. Como eu era supermedrosa naquele período de tantos fantasmas literais!. E você lembra daquele hospital e da capela que ficava à vista, contígua ao muro bem extenso? Nossa, passar ali à noite era sempre um tormento. E pernas pra que te quero!
São essas lembranças que ainda vivem em mim. Lembranças de um bairro bastante movimentado, de ruas amplas, de vizinhança e cheiro de castanhas sendo torradas, passarinhos caçados por uma penca de meninos virando homens - lembra quando eles despejavam o produto da çaça. um tanto de passarinhos assim todos mortos? Não entendia bem aquela aventura! Ficava ali parada diante daqueles personagens abatidos com tiros de estilingue e sentia pena...
Ah! Sabe quando nos reuníamos à noite todas as crianças e tinha aquela brincadeira do anel: "Guarde esse anelzinho bem guardadinho" pra outra criança advinhar em que mãos estava? Bem, eu odiava! Achava aquela brincadeira muito chata e sem graça. Acho que era muito óbvia e muito lenta. Não combinava com meu temperamento de descobertas! Mas aquele sentimento infelizmente fiquei prá mim!
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
sábado, 11 de setembro de 2010
De natal em Alagodé e futuras narrativas digitais
Bonsoir,
Pensei muito em vc esses dias. Especialmente porque mãe está em Aracaju e a presença dela lá me faz pensar em vc.
Ela me dizia da intenção de passar o natal em casa, de retorno a Alagodé, mas Jorge parece não confirmar a informação. Eu, pessoalmente, acredito ser a melhor coisa a fazer, dado o fato que passar os dias na companhia quase que exclusiva de uma cuidadora não é a melhor das hipóteses para ninguém. Virgínia também pensa como eu. E é uma pena que vc não esteja por aqui para colhermos sua opinião também.
Aqui em Salvador o clima está atípico para um mês de setembro. Continuamos com temperaturas amenas durante o dia e noites bem frias, especialmente na madrugada. Tenho sempre um edredon do lado, em caráter preventivo, mas muitas vezes lanço mão dele para aplacar esse frio.
No mais, sempre às voltas com o trabalho na empresa e as pesquisas para o doutorado. Também tenho me distraído com sites interessantes e investimentos em trabalhos artesanais, que me fazem muito bem. Dia desses conheci o site http://www.shewrites.com/, dedicado a mulheres afegãs. O site foi fundado por uma escritora americana que incentiva mulheres, não só afegãs, mas de todo mundo, com suas narrativas.
Eu me interesso bastante, haja vista que no futuro próximo devo desenvolver melhor esse meu lado criato, de escritora. No primeiro semestre, publicando um livro pela Brasiliense, e na sequência dedicando-me à literatura e às minhas narrativas, sejam escritas ou mesmo digiitais. A idéia é criar mecanismos discursivos por meio das tecnologias digitais. Daí vamos ver o que construímos, não é mesmo?
Bem, desejo que tudo esteja correndo muito bem. E sempre com saudades, no aguardo de notícias suas.
Até mais!
Pensei muito em vc esses dias. Especialmente porque mãe está em Aracaju e a presença dela lá me faz pensar em vc.
Ela me dizia da intenção de passar o natal em casa, de retorno a Alagodé, mas Jorge parece não confirmar a informação. Eu, pessoalmente, acredito ser a melhor coisa a fazer, dado o fato que passar os dias na companhia quase que exclusiva de uma cuidadora não é a melhor das hipóteses para ninguém. Virgínia também pensa como eu. E é uma pena que vc não esteja por aqui para colhermos sua opinião também.
Aqui em Salvador o clima está atípico para um mês de setembro. Continuamos com temperaturas amenas durante o dia e noites bem frias, especialmente na madrugada. Tenho sempre um edredon do lado, em caráter preventivo, mas muitas vezes lanço mão dele para aplacar esse frio.
No mais, sempre às voltas com o trabalho na empresa e as pesquisas para o doutorado. Também tenho me distraído com sites interessantes e investimentos em trabalhos artesanais, que me fazem muito bem. Dia desses conheci o site http://www.shewrites.com/, dedicado a mulheres afegãs. O site foi fundado por uma escritora americana que incentiva mulheres, não só afegãs, mas de todo mundo, com suas narrativas.
Eu me interesso bastante, haja vista que no futuro próximo devo desenvolver melhor esse meu lado criato, de escritora. No primeiro semestre, publicando um livro pela Brasiliense, e na sequência dedicando-me à literatura e às minhas narrativas, sejam escritas ou mesmo digiitais. A idéia é criar mecanismos discursivos por meio das tecnologias digitais. Daí vamos ver o que construímos, não é mesmo?
Bem, desejo que tudo esteja correndo muito bem. E sempre com saudades, no aguardo de notícias suas.
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
De clima desértico e previsão do tempo
Bonjour,
Já se passaram alguns dias desde a última visita. Tenho andado bastante ocupada, cuidando da escrita da minha tese de doutorado, por isso o meu silêncio. Este foi um mês atípico, mas bastante proveitoso. Acabei de voltar de Abadiânia, creio que não conheça esse lugarejo em Goiás. O tempo por lá andou tão seco esses dias, a umidade relativa do ar promovendo um clima de deserto.
Aí não tem jeito, todos de olho na meteorologia. E eu na moça do tempo. Sempre que se refere ao Norte, vejo como está o tempo por aí. Em geral, bem diferente do nosso, aqui na orla Nordeste do Brasil. Não tem jeito. Sempre observo as zonas amarelas ou muito vermelhas, sinal de sol, e verdes, para a previsão de chuvas. E penso como é que deve ser por aí numa região tão árida em termos de desenvolvimento. Vejo que chove muito também e muitas vezes a temperatura cai também.
Como será viver no Norte? É sempre uma pergunta recorrente. Como será seu dia-a-dia com tantos compromissos, pacientes a atender, aulas por preparar? Espero que seja um lugar bem acolhedor.
Até mais,
Já se passaram alguns dias desde a última visita. Tenho andado bastante ocupada, cuidando da escrita da minha tese de doutorado, por isso o meu silêncio. Este foi um mês atípico, mas bastante proveitoso. Acabei de voltar de Abadiânia, creio que não conheça esse lugarejo em Goiás. O tempo por lá andou tão seco esses dias, a umidade relativa do ar promovendo um clima de deserto.
Aí não tem jeito, todos de olho na meteorologia. E eu na moça do tempo. Sempre que se refere ao Norte, vejo como está o tempo por aí. Em geral, bem diferente do nosso, aqui na orla Nordeste do Brasil. Não tem jeito. Sempre observo as zonas amarelas ou muito vermelhas, sinal de sol, e verdes, para a previsão de chuvas. E penso como é que deve ser por aí numa região tão árida em termos de desenvolvimento. Vejo que chove muito também e muitas vezes a temperatura cai também.
Como será viver no Norte? É sempre uma pergunta recorrente. Como será seu dia-a-dia com tantos compromissos, pacientes a atender, aulas por preparar? Espero que seja um lugar bem acolhedor.
Até mais,
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Centro-Oeste,
Dias quentes,
Nordeste,
Norte
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
De burocracia, medicina e trabalho peão
Bonjour,
Ontem lembrei-me de você. Fui a uma clínica fazer um teste ergométrico e depois um ecocardioagrama. Exames de rotina. Observei como a medicina está cada vez mais impessoal e burocrática. Pessoalmente tenho alergia a médicos, hospital, essas coisas. Ida, só preventivamente e em último caso!
Pra começar, não se é mais necessário saber em que contexto você se encontra e o que lhe traz ali. Se é um exame como esse (teste ergométrico), as perguntas têm malmente a ver com o diagnóstico relativo ao quadro: peso, altura, colesterol alto? Diabetes? Hipertensão? Ah! E antes do exame se vc está alimentada.
O procedimento prossegue com um profissional limitado a tomar sua pressão, colocar os dados numa máquina e lhe informar que a esteira vai entrar num nova frequência, que é pra vc ir se ambientando com o próximo esforço antes da exaustão. Dessa vez - a médica bem nova que mal me deu um bom dia e sequer um até logo - me perguntou a certa altura do exame em que nível de esforço eu supunha me encontrar. - Entre zero e 10", complementou. E àquela altura eu considerava estar num nível cinco. Daí em diante a esteira puxou.
Ao final, nem uma palavra sequer sobre o procedimento, apenas adiantou que o resultado do exame estaria pronto em 10 minutos. Não fosse a minha pergunta sobre o meu estado geral, nada teria sido dito.
O procedimento foi feito numa sala de uns oito metros quadrados, seis dos quais destinados à esteira, uma maca, um computador e uma cadeira. Atrás de um biombo contíguo já se encontrava um novo paciente, na mesma sala, nos dois metros restantes, preparando-se para entrar tão logo eu descesse da esteira. Enquanto ele se aprontava, tendo a gordura corporal retirada com um chumaço de éter, eu era obrigada a inalar aquela substância à qual a maioria das pessoas se sente indisposta na presença. Quem gosta de cheiro de hospital e de lembranças de injeção????
Pois bem, não foi difícil lembrar-me de você, de quão é dura essa profissão que você escolheu. À tarde, já deitada para um novo procedimento - um ecocardiograma - o médico que realizava o exame - já com outra postura de quem sabe que muito do glamour da área médica é ilusório - confessava-me: - Vc sabe, médico é peão mesmo"!. O comentário aludia ao fato de que - como não pôde deixar de ser - me referia a você (ah! sabe, eu tenho uma irmã médica, mas ela não mora aqui!) e de me reportar o quanto vc trabalha, além da Universidade nesses empregos públicos!
Até mais!
Ontem lembrei-me de você. Fui a uma clínica fazer um teste ergométrico e depois um ecocardioagrama. Exames de rotina. Observei como a medicina está cada vez mais impessoal e burocrática. Pessoalmente tenho alergia a médicos, hospital, essas coisas. Ida, só preventivamente e em último caso!
Pra começar, não se é mais necessário saber em que contexto você se encontra e o que lhe traz ali. Se é um exame como esse (teste ergométrico), as perguntas têm malmente a ver com o diagnóstico relativo ao quadro: peso, altura, colesterol alto? Diabetes? Hipertensão? Ah! E antes do exame se vc está alimentada.
O procedimento prossegue com um profissional limitado a tomar sua pressão, colocar os dados numa máquina e lhe informar que a esteira vai entrar num nova frequência, que é pra vc ir se ambientando com o próximo esforço antes da exaustão. Dessa vez - a médica bem nova que mal me deu um bom dia e sequer um até logo - me perguntou a certa altura do exame em que nível de esforço eu supunha me encontrar. - Entre zero e 10", complementou. E àquela altura eu considerava estar num nível cinco. Daí em diante a esteira puxou.
Ao final, nem uma palavra sequer sobre o procedimento, apenas adiantou que o resultado do exame estaria pronto em 10 minutos. Não fosse a minha pergunta sobre o meu estado geral, nada teria sido dito.
O procedimento foi feito numa sala de uns oito metros quadrados, seis dos quais destinados à esteira, uma maca, um computador e uma cadeira. Atrás de um biombo contíguo já se encontrava um novo paciente, na mesma sala, nos dois metros restantes, preparando-se para entrar tão logo eu descesse da esteira. Enquanto ele se aprontava, tendo a gordura corporal retirada com um chumaço de éter, eu era obrigada a inalar aquela substância à qual a maioria das pessoas se sente indisposta na presença. Quem gosta de cheiro de hospital e de lembranças de injeção????
Pois bem, não foi difícil lembrar-me de você, de quão é dura essa profissão que você escolheu. À tarde, já deitada para um novo procedimento - um ecocardiograma - o médico que realizava o exame - já com outra postura de quem sabe que muito do glamour da área médica é ilusório - confessava-me: - Vc sabe, médico é peão mesmo"!. O comentário aludia ao fato de que - como não pôde deixar de ser - me referia a você (ah! sabe, eu tenho uma irmã médica, mas ela não mora aqui!) e de me reportar o quanto vc trabalha, além da Universidade nesses empregos públicos!
Até mais!
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procedimento clínico,
teste ergométrico
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
domingo, 8 de agosto de 2010
De Santa Tereza, ãnima e meias no Dia dos Pais
Bonjour,
Faperj
Hoje lembrei-me de você. Como poderia deixar de fazê-lo? É dia dos pais! Nosso irmão Gute enviou uma mensagem logo cedo. Mas, estranhamente, você não faz parte de minhas lembranças relacionadas a essa data. Estranho eu me dar conta disso também. Nem quando morávamos todos juntos em Alagoinhas nem mesmo em Aracaju, em nossa curta passagem (eu, de dois anos) hospedados por Gute.
Acredito que não tínhamos mesmo os mesmos times. Eu menorzinha do que você, talvez mais absorvida pelas novidades da infância e depois da adolescência, creio que nos cruzávamos pouco.
Saindo da adolescência, depois do período em Aracaju, entrei para a faculdade, aí mesmo que nos perdemos. Enquanto eu corria atrás de uma formação no curso de jornalismo da Facom, você terminava o seu curso de medicina e em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro. De lá, lembro apenas daquela visita - vc com um cabelo meio pigmaleão, bem à vontade - me encontrando no aeroporto, a viagem de ônibus. Aquela ali eu nunca esqueci! Como também não esqueci do quão era labiríntico aquele convento de freiras que você morava. Nossa, são tão fortes as lembranças, de tantos quartos que se perdiam em corredores que lembravam opressão. Não se podia falar alto, tinha-se horário para tudo e as freiras não podiam ser incomodadas. E ainda tinha o horário de retorno. Nunca depois das 10 horas! Mas eu lembro também do bondinho de Santa Tereza - que nós subíamos e desceíamos para ir ao centro - e ele sempre cheio! Você sabe, outro dia retornei ali com uma amiga e não pude deixar de relembrar aquela experiência. Fomos ao ensaio de um bloco carnavalesco famoso, Os Carmelitas. Ah! O amigo dela, que eu conheci, é um dos fundadores. As ruas enchem, tem-se muito problema para estacionar - por causa das ruas estreitas -, os jovens enchem a cara de álcool e outras drogas - literalmente - enaqunto o samba corre solto. É um grupo bem tradicional e a festa corre até altas horas. Também foi em Santa Tereza que nessa mesma viagem saboreei uma feijoada deliciosa. Do boteco, um point, trouxe além do sabor da iguaria nacional, lembranças dos bondes feitos de lata. Lindos, por sinal!
Sabe o que me marca em Dia dos Pais? É que eu era sempre monocórdica no que dizia respeito a presentes. Trazia todo o ano meias de presente ao nosso pai. Sim, meias! Tem presente mais sem graça pra se dar a alguém importante? Lamento hoje que tenha por anos praticado algo tão sem sal para uma pessoa tão cheia de riqueza anímica: ouvia sua própria música, lia os próprios livros, adora telejornais, o jornal de domingo, as notícias do mundo de hoje...
Até mais!
Faperj
Hoje lembrei-me de você. Como poderia deixar de fazê-lo? É dia dos pais! Nosso irmão Gute enviou uma mensagem logo cedo. Mas, estranhamente, você não faz parte de minhas lembranças relacionadas a essa data. Estranho eu me dar conta disso também. Nem quando morávamos todos juntos em Alagoinhas nem mesmo em Aracaju, em nossa curta passagem (eu, de dois anos) hospedados por Gute.
Acredito que não tínhamos mesmo os mesmos times. Eu menorzinha do que você, talvez mais absorvida pelas novidades da infância e depois da adolescência, creio que nos cruzávamos pouco.
Saindo da adolescência, depois do período em Aracaju, entrei para a faculdade, aí mesmo que nos perdemos. Enquanto eu corria atrás de uma formação no curso de jornalismo da Facom, você terminava o seu curso de medicina e em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro. De lá, lembro apenas daquela visita - vc com um cabelo meio pigmaleão, bem à vontade - me encontrando no aeroporto, a viagem de ônibus. Aquela ali eu nunca esqueci! Como também não esqueci do quão era labiríntico aquele convento de freiras que você morava. Nossa, são tão fortes as lembranças, de tantos quartos que se perdiam em corredores que lembravam opressão. Não se podia falar alto, tinha-se horário para tudo e as freiras não podiam ser incomodadas. E ainda tinha o horário de retorno. Nunca depois das 10 horas! Mas eu lembro também do bondinho de Santa Tereza - que nós subíamos e desceíamos para ir ao centro - e ele sempre cheio! Você sabe, outro dia retornei ali com uma amiga e não pude deixar de relembrar aquela experiência. Fomos ao ensaio de um bloco carnavalesco famoso, Os Carmelitas. Ah! O amigo dela, que eu conheci, é um dos fundadores. As ruas enchem, tem-se muito problema para estacionar - por causa das ruas estreitas -, os jovens enchem a cara de álcool e outras drogas - literalmente - enaqunto o samba corre solto. É um grupo bem tradicional e a festa corre até altas horas. Também foi em Santa Tereza que nessa mesma viagem saboreei uma feijoada deliciosa. Do boteco, um point, trouxe além do sabor da iguaria nacional, lembranças dos bondes feitos de lata. Lindos, por sinal!
Sabe o que me marca em Dia dos Pais? É que eu era sempre monocórdica no que dizia respeito a presentes. Trazia todo o ano meias de presente ao nosso pai. Sim, meias! Tem presente mais sem graça pra se dar a alguém importante? Lamento hoje que tenha por anos praticado algo tão sem sal para uma pessoa tão cheia de riqueza anímica: ouvia sua própria música, lia os próprios livros, adora telejornais, o jornal de domingo, as notícias do mundo de hoje...
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
De infância, rebolation e repique
Bonjour,
Fim de semana que passou fui a Aracaju. Nosso sobrinho Vinicius fez 17 anos na quinta, 29, e fui comemorar com ele. Claro, lembrei-me de você. Vieram à mente as imagens de como vocês eram apegados, ele bem pequeninho, bem danadinho, um pestinha correndo pra lá e pra cá nos corredores do Edifício Jangada, no centro de Aracaju, de grandes lembranças.
Ele cresceu, como você pode perceber. Aquele meninho (lembra dessa foto aí? Vc e Vinicius aos 4 anos!) agora é um rapazinho. Faz o segundo ano do ensino médio e já se prepara para o vestibular. Está desde pequeninho no Colégio Arc Diocesano, que você acompanhou bem. Agora estuda pela manhã, que é pra acabar com a preguiça. Mudou de turma também. O pai tá no pele dele, que está tendo de se rebolar. Por enquanto, o rebolado mais esforçado é
seguindo o vocalista Léo Santana, do Parangolé,de quem é fã incondicional. Agora adotou a mesma indumentária, incluindo o boné.
É mesmo uma figura! Bem alegre e cheio de chistes! Indagado sobre o que quer ser na vida, está indeciso, como todo adolescente, entre administração, direito ou veterinária. Agora, a motivação mesmo é música. Além de seguir Léo Santana pra todo lado, também resolveu montar uma banda. E já tem alguns integrantes: baixista, saxofonista. Ele próprio ganhou da mãe um instrumento de percussão, e na escola tá treinando na banda um instrumento chamado repique. Vamos aguardar toda essa formação.
Até mais!
Fim de semana que passou fui a Aracaju. Nosso sobrinho Vinicius fez 17 anos na quinta, 29, e fui comemorar com ele. Claro, lembrei-me de você. Vieram à mente as imagens de como vocês eram apegados, ele bem pequeninho, bem danadinho, um pestinha correndo pra lá e pra cá nos corredores do Edifício Jangada, no centro de Aracaju, de grandes lembranças.
Ele cresceu, como você pode perceber. Aquele meninho (lembra dessa foto aí? Vc e Vinicius aos 4 anos!) agora é um rapazinho. Faz o segundo ano do ensino médio e já se prepara para o vestibular. Está desde pequeninho no Colégio Arc Diocesano, que você acompanhou bem. Agora estuda pela manhã, que é pra acabar com a preguiça. Mudou de turma também. O pai tá no pele dele, que está tendo de se rebolar. Por enquanto, o rebolado mais esforçado é
seguindo o vocalista Léo Santana, do Parangolé,de quem é fã incondicional. Agora adotou a mesma indumentária, incluindo o boné.
É mesmo uma figura! Bem alegre e cheio de chistes! Indagado sobre o que quer ser na vida, está indeciso, como todo adolescente, entre administração, direito ou veterinária. Agora, a motivação mesmo é música. Além de seguir Léo Santana pra todo lado, também resolveu montar uma banda. E já tem alguns integrantes: baixista, saxofonista. Ele próprio ganhou da mãe um instrumento de percussão, e na escola tá treinando na banda um instrumento chamado repique. Vamos aguardar toda essa formação.
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
De curso de direção e matinées em Alagoinhas
Bonjour,
Hoje eu lembrei de você. Passei a manhã no curso de direção de cinema com o cineasta chileno Miguel Littin. Voltei aos tempos de criança em Alagoinhas, quando morávamos na Rua Carlos Gomes, n. 101, bem próximo do posto de gasolina e ao lado do bureau de negócios de nosso pai. Dali colho as melhores lembranças. Dentre elas, numa fase em que o posto do vizinho foi à falência, eu acho, costumava circular por ali com nossas irmãs Sueli e Virgínia e a dupla de vizinhos nossos amigos, que nos acompanhava em nossas peripécias. Nessa fase, com uns 10 anos, não me lembro ao certo como era o seu dia-a-dia porque em verdade gostávamos de circular pelo mundo. Acredito que com dois anos a mais que eu, você já fosse uma mocinha e estivesse num patamar existencial mais elevado.
Bem, em nosso caso, corríamos atrás de colecionar umas certas fichas coloridas que pareciam resquício de jogo de azar, algum cassino clandestino, talvez. Não sabemos ao certo. Lembo-me de que eram centenas e eu gostava de manuseá-las e de brincar com as irmãs menores com aquelas coisas que instigavam a imaginação.
É desse tempo a ideia de liderança que realizava com esses dois amigos vizinhos - não lembro mais os nomes deles, mas a imagem daqueles tempos continua viva - e com nossas irmãs menores, uma com 8, outra com 6. Eu era a mais velha e liderava o grupo com minhas fantasias.
Vem dessa época o hábito de escrever historinhas que me lembrei hoje. Tenho uma lembrança perfeita de desenhar, sentada nos degraus da casa 101, da Rua Carlos Gomes, uma das dezenas de historietas feitas para serem exibidas em películas. Eu desenhava as histórias (pode ser com h mesmo) em cima de rolos de máquinas registradoras de supermercados que eu mesma comprava, e apresentava as histórias prontas para esse grupo que eu liderava e outros vizinhos, os da direita, filha e neto da dona de uma pensão ao lado. A fita corria dentro de uma caixa de pó daquelas antigas que minha mãe costumava usar e quando acabava o pó, servia de telinha de cinema. E eu fixava a fita de um lado numa caneta, a fita se desenrolava enquanto era puxada do outro lado. Tudo bem artesanal, mas era cinema. Tinha platéia e tudo!
Lembra o quanto era cinéfilas nesta época. Meu pai costumava bancar nossas entradas nas matinés do Cine Alagoinhas, de grande memória. Eu, ali, fascinada com muitos filmes que marcaram a minha vida, dentre eles, a memóravel vida de Valdick Soriano, acho que foi um dos últimos a serem vistos. Aquilo tudo me marcou. E pena que dali pra frente o cinema no interior evaporou sem apoio e aquelas duas grandes salas que eu conheci na cidade, transformaram-se em salas para sessões de igrejas evangélicas.
Até mais!
Hoje eu lembrei de você. Passei a manhã no curso de direção de cinema com o cineasta chileno Miguel Littin. Voltei aos tempos de criança em Alagoinhas, quando morávamos na Rua Carlos Gomes, n. 101, bem próximo do posto de gasolina e ao lado do bureau de negócios de nosso pai. Dali colho as melhores lembranças. Dentre elas, numa fase em que o posto do vizinho foi à falência, eu acho, costumava circular por ali com nossas irmãs Sueli e Virgínia e a dupla de vizinhos nossos amigos, que nos acompanhava em nossas peripécias. Nessa fase, com uns 10 anos, não me lembro ao certo como era o seu dia-a-dia porque em verdade gostávamos de circular pelo mundo. Acredito que com dois anos a mais que eu, você já fosse uma mocinha e estivesse num patamar existencial mais elevado.
Bem, em nosso caso, corríamos atrás de colecionar umas certas fichas coloridas que pareciam resquício de jogo de azar, algum cassino clandestino, talvez. Não sabemos ao certo. Lembo-me de que eram centenas e eu gostava de manuseá-las e de brincar com as irmãs menores com aquelas coisas que instigavam a imaginação.
É desse tempo a ideia de liderança que realizava com esses dois amigos vizinhos - não lembro mais os nomes deles, mas a imagem daqueles tempos continua viva - e com nossas irmãs menores, uma com 8, outra com 6. Eu era a mais velha e liderava o grupo com minhas fantasias.
Vem dessa época o hábito de escrever historinhas que me lembrei hoje. Tenho uma lembrança perfeita de desenhar, sentada nos degraus da casa 101, da Rua Carlos Gomes, uma das dezenas de historietas feitas para serem exibidas em películas. Eu desenhava as histórias (pode ser com h mesmo) em cima de rolos de máquinas registradoras de supermercados que eu mesma comprava, e apresentava as histórias prontas para esse grupo que eu liderava e outros vizinhos, os da direita, filha e neto da dona de uma pensão ao lado. A fita corria dentro de uma caixa de pó daquelas antigas que minha mãe costumava usar e quando acabava o pó, servia de telinha de cinema. E eu fixava a fita de um lado numa caneta, a fita se desenrolava enquanto era puxada do outro lado. Tudo bem artesanal, mas era cinema. Tinha platéia e tudo!
Lembra o quanto era cinéfilas nesta época. Meu pai costumava bancar nossas entradas nas matinés do Cine Alagoinhas, de grande memória. Eu, ali, fascinada com muitos filmes que marcaram a minha vida, dentre eles, a memóravel vida de Valdick Soriano, acho que foi um dos últimos a serem vistos. Aquilo tudo me marcou. E pena que dali pra frente o cinema no interior evaporou sem apoio e aquelas duas grandes salas que eu conheci na cidade, transformaram-se em salas para sessões de igrejas evangélicas.
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
sábado, 24 de julho de 2010
De consulta médica e lembranças
Bonjour,
Esses dias lembrei-me de você, como de costume. Fui a uma médica cardiologista que uma colega de trabalho me indicara para exames de rotina. A médica, Dra Fátima, um luxo de alegria e autenticidade.
Mas é normal que estando em frente a algum médico, seja de que especialidade for, eu sempre lembre de você. Antigamente era mais grave e eu sempre me reportava ao dado de que tenho uma irmã médica. "Sabe, eu tenho uma irmã médica, é cardiologista, mas ela não mora aqui...". Acho que era algum tipo de ato compensatório, um detalhe para eu falar de você e me recompensar da sua ausência...
Naquela viagem que fiz em 1995 à Pensilvânia (EUA), sempre me reportava ao fato de que tinha uma irmã mestranda em fisiologia na UFRJ e que tinha escrito um artigo aceito numa revista internacional. Deve ter sido o artigo mais mais comentado que conheci. Meu amigo Wayne Selcher, professor do Elizabethtown College, que me acompanhava, já não me aguentava falar a mesma coisa. O mesmo valia para outro amigo na Fildadélfia, que foi me hospedou e foi meu cicerone por uns dias. Acho que ele concluía o quanto eu era tola em repetir, repetir, repetir um dado corriqueiro na vida dos americanos, que é a alguém fazendo academia, mas eu não queria saber, tinha mesmo uma irmã que fazia mestrado em fisiologia cardíaca. E eu tinha orgulho disso. Ah, até hoje mantenho comigo a cópia do artigo assinado que vc me enviou. A propósito, tem escrito mais algum artigo?
Até mais!
Esses dias lembrei-me de você, como de costume. Fui a uma médica cardiologista que uma colega de trabalho me indicara para exames de rotina. A médica, Dra Fátima, um luxo de alegria e autenticidade.
Mas é normal que estando em frente a algum médico, seja de que especialidade for, eu sempre lembre de você. Antigamente era mais grave e eu sempre me reportava ao dado de que tenho uma irmã médica. "Sabe, eu tenho uma irmã médica, é cardiologista, mas ela não mora aqui...". Acho que era algum tipo de ato compensatório, um detalhe para eu falar de você e me recompensar da sua ausência...
Naquela viagem que fiz em 1995 à Pensilvânia (EUA), sempre me reportava ao fato de que tinha uma irmã mestranda em fisiologia na UFRJ e que tinha escrito um artigo aceito numa revista internacional. Deve ter sido o artigo mais mais comentado que conheci. Meu amigo Wayne Selcher, professor do Elizabethtown College, que me acompanhava, já não me aguentava falar a mesma coisa. O mesmo valia para outro amigo na Fildadélfia, que foi me hospedou e foi meu cicerone por uns dias. Acho que ele concluía o quanto eu era tola em repetir, repetir, repetir um dado corriqueiro na vida dos americanos, que é a alguém fazendo academia, mas eu não queria saber, tinha mesmo uma irmã que fazia mestrado em fisiologia cardíaca. E eu tinha orgulho disso. Ah, até hoje mantenho comigo a cópia do artigo assinado que vc me enviou. A propósito, tem escrito mais algum artigo?
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
De aniversário e perdas
Bonsoir,
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!
Hoje lembrei de nosso pai. Claro, de forma mais especial. Aniversário da morte dele, comentado rapidamente com colegas de trabalho, mas bem vivo dentro de mim. Creio que dentro de todos nós, é claro.
Aquele dia nunca me saiu da memória. Dias antes eu tinha estado em casa, visitando a família. Lembro de tê-lo visto, talvez pela última vez em vida, sentado na rede no rol de entrada da casa. Lia um livro e na saída - não me lembro bem se chegava ou saía de casa retornando a Salvador - me olhou de forma diferente. O corpo fazendo peso sobre a rede, um livro nas mãos e os óculos na outra...foi a última vez.
Na manhã do dia 15/07/1988 eu comia uma banana sentada no sofá do meu apartamento no Rio Vermelho. Lembro de ter tido um sonho com um ser - parecia um feto bem precoce - estava com uma cor meio terra clara. Nosso irmão entrou no apartamento que dividia comigo - foi meu hóspede por um período - para me dar a notícia de que ele houvera falecido. Quando o vi entrar, lembrei-me de imediato do sonho, e não deixei-o falar. "Meu pai morreu?" - indagei. E continuei. "Já sabia"...
Tomei aquilo como algo natural, o que não era. Não me lembro de mais nada, a não ser do fato de estar em casa em Alagoinhas, diante daquele clima triste todo, eu tentando me situar na situação, tentando enfrentar meus próprios medos - a vida inteira fui avessa a velórios e coisas fúnebres, mas aquele eu teria que enfrentar de uma forma heróica. Lembro de ter dito clichê a minha mãe, coisas do tipo - agora foi ele, depois pode ser qualquer um de nós, é a vida, essas coisas -, meio sem saber direito como me portar. Meu pai ali, no caixão, tinha o rosto coberto por um pano branco. Toquei-lhe levemente as mãos frias pela última vez. Acredito que tentava sair daquele espaço sufocante e triste. Na cozinha muitas flores de jardins e quintais trazidas pelos vizinhos, pois meu pai era uma pessoa simpática, parceira, educado, cordial, muito querida.
Viajamos até Sambaíba, a terra onde ele nasceu para enterrá-lo. Chegamos ao anoitecer, tentando superar o fantasma de que não se realiza enterros à noite. Lembro de ter jogado um pouco de terra na cova, como mandava alguma tradição. À noite, o mais difícil foi enfrentar a falta de sono, noite difícil, povoada pelos fantasmas de ter a vida inteira tido medo de fantasmas e agora das lembranças bem recentes do velório e enterro de meu pai. Isso foi o que ficou daquele dia. O mais difícil viria pela frente. A dor desconhecida da perda intensificada. Em 1989 ainda marcada por ela, me dei conta disso quando uma amiga - Miriam - registrava em mim uma tristeza. Só ali me dei conta de que fora uma perda poderosa.
Você sabe, não lembro de você, por certo não me lembro de nenhum de nós fazendo parte daquele evento. Não sei quem chorou, o que sentiu, como reagiu. Lembro de minha mãe, arroadeada de gente e eu tentando consolá-la. Apenas. Acredito que estive muito circunscrita à minha própria experiência.
Espero que um dia possamos falar mais sobre isso.
Até mais!
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Olá,
Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
De telegrama e aniversário
Olá,
É, vc sabe, hoje falando com mãe, ela comentou sobre o seu aniversário desse ano. Me disse que passou um telegrama, vc recebeu? Nesse telegrama lhe repetia o que te falara no último post. Entre parabéns, muitas felicidades e votos de saúde e paz, amor também, me falou que colocou à disposição o apto, que tem um quarto pra vc, essas coisas...Ela vive ligada em vc, esperando o dia que vc possa lhe dar o prazer da visita. Nós também, é claro.
Ah! Hoje ela também me contou que a D. Tal apareceu com Manu numa visita rápida. Parecia, segundo ela, que Manu, estaria de mudança para Salvador. A nota triste é que, mesmo sendo vizinhas, mãe não recebeu o comunicado dessa mudança. Só tenta advinhar o motivo de pessoas apressadas passando por lá pelo condomínio...
Fico por aqui hoje.
Bonsoir.
É, vc sabe, hoje falando com mãe, ela comentou sobre o seu aniversário desse ano. Me disse que passou um telegrama, vc recebeu? Nesse telegrama lhe repetia o que te falara no último post. Entre parabéns, muitas felicidades e votos de saúde e paz, amor também, me falou que colocou à disposição o apto, que tem um quarto pra vc, essas coisas...Ela vive ligada em vc, esperando o dia que vc possa lhe dar o prazer da visita. Nós também, é claro.
Ah! Hoje ela também me contou que a D. Tal apareceu com Manu numa visita rápida. Parecia, segundo ela, que Manu, estaria de mudança para Salvador. A nota triste é que, mesmo sendo vizinhas, mãe não recebeu o comunicado dessa mudança. Só tenta advinhar o motivo de pessoas apressadas passando por lá pelo condomínio...
Fico por aqui hoje.
Bonsoir.
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
domingo, 11 de julho de 2010
De notícias e filosofia do direito
Olá,
Mãe manda lembranças. Você sabe, desde o ano passado ela está morando em Aracaju. Em setembro faz um ano. O condomínio é o mesmo de Sueli e de Manuela. Você sabe, Manu cresceu e agora é uma estudante de Direito. Sabe qual é a matéria que ela revelou que mais gostava logo que entrou no curso? Filosofia do Direito. Fiquei pensando como é que uma figurinha de 18 anos é tão elevada a ponto de sua matéria preferida ser Filosofia do Direito! É linda mesmo, desde sempre. Você precisa ver! Ah! Ela tá no orkut. Veja a fotinha dela aqui...
Então, continuando, sempre que falo com mãe pelo celular - ah! a velhinha agora (tá com 84 anos!) fala pelo celular. E sempre me pede pra colocar créditos... Nos últimos tempos, sempre com aquela mania de investimentos lotéricos, queria comprar aquele bolão do Faustão.
Ela seeeeeeeempre quer saber de você, ter notícias suas. Você sabe que ela já reservou um dos quartos do apartamento pra você? Pois é, diz que a hora que você quiser, pode ocupar...
Todos pensamos em você. Mãe reza sempre e tem esperanças de ainda te ver. Nós também. Independente se para ela o tempo possa não estar assim tão disponível. E pra nós, a gente também nunca sabe...
E ela o que sente? O mesmo amor de mãe que dedicou a todo nós. Tem o tantinho pra você também. Um tantão, eu diria...
E ela tá sempre ali ligada. Sempre rezando para que você dê notícias.
Você tão longe, dei-lhe uma dica para que mandasse uma carta para a universidade. Torço para que tenha chegado até você. Por aqui nós todos te amamos.
Até mais,
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Jornalista, mestre em Comunicação e doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias pela Faced-UFBa. Autora de uma das primeiras pesquisas acadêmicas sobre blogs no Brasil.
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